sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Geléia a Vista


Este mês de dezembro, por influência de Papai Noel, aquele velhinho direitista de longos cabelos e barbas brancas, a generosidade tem sido praticada nos quatro cantos do país. O Supremo deixou pra lá a lei da cláusula de barreira. Lei, ora a lei. As prestações de contas de campanha repletas de irregularidades têm sido todas aprovadas com algumas pequenas ressalvas “moralizadoras”. Arquiteta-se uma anistia ampla e irrestrita aos sanguessugas, vampiros e mensaleiros para promover a paz no Congresso Nacional. Por que só o Zé Dirceu e o Roberto Jefferson vão ficar fora dessa? E o espírito de Natal, gente?
Em meio à crise nos aeroportos o ministro da defesa Waldir Pires convoca a sociedade a rezar e com seu ar piedoso reclama que seu salário é baixo.
A coligação política já começa a dar os seus primeiros frutos. Em grande homenagem ao ilustre ex-parlamentar Severino Cavalcante, as forças políticas da coligação governamental aliadas às forças de oposição aprovaram, quase por unanimidade, generoso aumento em seus subsídios. Sarney, Renan, Tião Viana, ACM, Collor, Dornelles, Waldemar, João Paulo e demais parlamentares, coitadinhos se deram bem. Parabéns galera! Até tu Miro?
A semana também tem sido de choros e lágrimas. A senadora Heloísa Helena não consegue se conter e chora ao se despedir do Senado. Resolveu contrariar as elites no poder, dançou.
E Lula chora pela segunda vez.
Por que chora o Grande Líder?
Não chore presidente, não faltará pato na ceia de Natal. Nem caravanas para a segunda posse. O condomínio político fará uma grande festa para homenagear seu síndico na ilha da fantasia. Embora o Brasil não tenha um povo tão obediente quanto o povo chinês e nem o PT lhe obedeça, os partidos da base se encarregarão de que não haja protestos à sua vista e que possa subir a rampa em sossego.
A escolha dos ingredientes para o segundo mandato já foi feita. Em  que prato vai resultar não sabemos, mas tem gente achando que será uma grande geléia, ou marmelada. Afinal estava faltando sobremesa no prato dos brasileiros.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Políticos vão ao cabelereiro


"Eu agora sou amigo do Delfim Netto. Passei 20 e tantos anos criticando o Delfim Netto (ex-ministro da Fazenda da ditadura militar), e agora ele é meu amigo, e eu sou amigo dele. Porque eu estou dizendo isso? Porque eu acho que é a evolução da espécie humana. Quem é mais de direita, vai ficando mais de centro. Quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, menos à esquerda. E as coisas vão confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos, de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito”, disse Lula ao receber o prêmio Brasileiro do Ano da revista Isto É. 
Após a fala do grande líder, houve uma crise de identidade ideológica no país, o que provocou um intenso movimento de políticos para mudar a cor de seus cabelos. Alguns buscando fazer mechas brancas, pois poderiam ser confundidos com esquerdistas perigosos. Outros cogitaram de estabelecer lugares fixos no plenário da Câmara, conforme a cor dos cabelos, para melhor organizar as bancadas. Também as lojas de perucas ficaram abarrotadas pelos chamados políticos fisiológicos, queriam perucas de várias cores, para serem usadas conforme as circunstâncias. Certos intelectuais preferiram usar rena para não perder o charme construído ao longo de suas vidas acadêmicas. 
Os grisalhos ficaram felizes por saberem que os cabelos brancos são hoje um grande indicativo da evolução da espécie humana. E a calvície? Não? Pois se sabe que: “na hora do aperto, é dos carecas que elas gostam mais”. Os carecas são de esquerda, de centro ou de direita? E como posicionar o Marcos Valério? Os carecas estão proibidos de fazer política, ou teremos novamente que ouvir o grande líder? 
E as barbas e bigodes? Têm a ver também com a evolução da espécie? Há alguns tipos bigodes que se destacaram, como os de Hitler e Stalin, mas não sei se tinham ou não fios brancos. Há também barbas famosas, de Jesus Cristo e Che Guevara, uma era negra outra não se sabe direito, apenas supõe-se. 
O que é certo é que a maioria das mulheres é de esquerda, por opção, pois elas combatem os cabelos brancos de todos os modos possíveis.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Neoliberalismo e Pinochet


No início dos anos sessenta a democracia chilena era considerada exemplar, por seu respeito à pluralidade política e ao processo eleitoral e até pelo então enaltecido profissionalismo de suas forças armadas. Hoje se sabe que Salvador Allende foi vítima do que se denominou “estratégia econômica do caos”, plano urdido por golpistas chilenos e interesses políticos e econômicos externos, que culminou em uma crise de abastecimento promovida pela paralisação dos caminhoneiros em todo o país. Conseguiram o que queriam: do caos produziram-se as trevas. Tombou um dos últimos governos eleitos democraticamente na América Latina e instalou-se um truculento regime de terror, prisões indiscriminadas, torturas, mortes e exílio para milhares de cidadãos chilenos e estrangeiros que viviam no país.
Nasceu o regime comandado por Augusto Pinochet que se constituiu no principal símbolo das ditaduras latino-americanas no período de 1964 a 1990. Não que as ditaduras no Brasil, Uruguai e Argentina tenham sido menos cruéis e nefastos os seus efeitos. Não que Médici e Videla não pudessem reivindicar igual destaque, afinal seus regimes, em tudo semelhantes, prometiam a criação de potências no Cone Sul.
Com a morte de Pinochet, ironicamente no Dia Internacional dos Direitos Humanos, o tempo vai fechando um período traumatizante de nossas histórias.
As resenhas preparadas, com tempo, pelos jornais e emissoras de televisão, as entrevistas com personalidades brasileiras que viveram no Chile naquela época, tentam esboçar uma avaliação do período pinochetista. Há um certo misto de cinismo e ignorância no comportamento de vários profissionais da mídia e de alguns economistas entrevistados. Querem fazer crer que o sucesso alcançado pelo Chile de hoje deve-se ao “legado” do ditador. Sugerem que os resultados alcançados com as reformas econômicas promovidas no período: a Reforma da Previdência, o Banco Central independente e as privatizações, re-estatizações e re-privatizações é que explicariam tal performance.
Querem dizer que as ditaduras combinadas com neoliberalismo econômico constituem a fórmula para a promoção do Desenvolvimento? Terá sido por falta destas receitas que o Brasil, a Argentina e outros países do continente estão como estão? Será que a Alemanha atual obteve seu êxito por algum “legado de Hitler”?
Lamentavelmente, por um simplismo que ofende o esforço de reconstrução realizada pela sociedade chilena, este olhar que busca descobrir pontos positivos na ditadura de Pinochet e que indiretamente releva seus crimes é que cria o conceito do “prende, tortura e mata, mas faz”. É a lógica que justifica os regimes de força e que a aponta como saída para as dificuldades dos povos.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Violência e modernidade


Toca o telefone, o cara meio dormindo atende; ouve do outro lado aquela musiquinha de ligação a cobrar. Quem será? Ouve de repente, uma voz abalada e suplicante pedindo ajuda. “Pai me ajuda, pai”. A seguir, entra um pilantra na linha, em tom agressivo anunciando que era do tráfico e tinha seu filho seqüestrado e perguntava ansioso e arrogante: Você quer o seu filho de volta? Tem grana em casa? Ta sozinho? Vai querer seu filho de volta? Acho que vou matar ele logo, um babaca a menos… Após outro com voz mais mansa tentando acalmar para prosseguir…
Adrenalina a mil. Por milagre, sua mulher consegue pelo celular falar com os filhos que também estavam acabando de acordar. A pressão subiu, o batimento cardíaco idem, mas o suplício cessou.
No dia anterior, o cara havia recebido dois e.mails, um em nome do Fininvest e outro em nome da loja virtual Submarino tentando pescar dados e captar informações e senhas. De cada dez mensagens eletrônicas recebidas, nove são spam de todo canto do mundo. Que merda!
Ele se pergunta se as coisas estão piorando ou ele é que tinha tido sorte até aquele momento.
Mas nada como aprender com a sabedoria dos mais jovens.
“Ô velho! Estelionato sempre houve, ou você acha que com as facilidades atuais de telefones celulares e computadores os estelionatários não iriam também usá-los?” Os contos do vigário se reciclam ao longo do tempo, sempre correndo atrás de uma desatenção ou de uma guarda aberta.
Veio a mente do cara um fato ocorrido trinta anos antes, que, em meio a um congestionamento de trânsito, depois de terem lhe arrancado o relógio de pulso pela janela do ônibus, ele tinha ouvido a máxima de um motorista do ônibus ao lado e que a tudo assistira: “pois é meu irrrmão, bobeô, dançô”
E assim caminha a humanidade em direção as chamadas sociedades civilizadas.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

KOFI ANNAN


Após três anos da invasão americana no Iraque, praticamente todos os dias, assistimos na televisão as notícias a respeito dos ataques das forças militares e dos atentados terroristas. Somos informados que desde o início dos bombardeios, em 2003, o orçamento desta ação militar poderá totalizar no próximo ano, 500 bilhões de dólares. A alegação de que estava em curso a produção de armas químicas ficou para as calendas. Os Estados Unidos não deram ouvidos aos países que reprovavam tal intervenção, nem mesmo as manifestações havidas em seu território e em todo o Mundo; mandaram às favas a ONU e prestaram um enorme desserviço à causa da Democracia e da Paz Mundial.
As Nações Unidas bem que tentaram intermediar uma solução para o problema criado. Quem não se lembra do atentado sofrido em Bagdá que levou à morte trágica o embaixador Sérgio Vieira de Mello e fim das esperanças de término pacífico de tal aventura?
Mas Kofi Annan não está se omitindo, neste momento, ao denunciar o fracasso das nações em encontrar caminhos diplomáticos para a solução de questões internacionais.
O Secretário Geral Das Nações Unidas, como o menino da fábula do Rei está nu, em uma de suas últimas entrevistas, antes de deixar o cargo a 31 de dezembro, afirmou à rede de televisão britânica, BBC referindo-se a situação atual do Iraque:
“Quando houve o conflito no Líbano e em outros lugares, demos o nome de guerra civil — e isto é muito pior” 
“Se eu fosse um iraquiano médio, obviamente eu faria a mesma comparação –de que eles tinham um ditador brutal, mas tinham as ruas, podiam sair, seus filhos podiam ir à escola e voltar sem que a mãe ou o pai se preocupasse” 
Os interesses da indústria do petróleo e da indústria bélica americana parecem que falaram mais alto do que os valores da convivência pacífica entre desiguais. Mas, há pelo menos uma notícia a comemorar: a demissão do embaixador dos EEUU junto a ONU, conhecido por sua arrogância e estreiteza de visão.
Adeus Kofi e votos para que seu sucessor se alinhe a causa das Nações Unidas pela paz e pela superação das misérias de nosso tempo.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Coisas do Rio


Caminhar pelas ruas das grandes cidades é uma das coisas boas da vida, sempre reservando surpresas. Pois não é que noutro dia, primeiro de novembro, em pleno Largo da Carioca, não mais que de repente parecendo surgir de outra época, em meio a pessoas apressadas, surge um desfile alusivo ao dia de Todos os Santos: uma pequena banda musical, pessoas fantasiadas, algumas com enormes pernas de pau, outras carregando estandartes, tal como nas festas do Divino. O mais autêntico interior, daquelas cidades pequenas emergindo em pleno centro do Rio de Janeiro. Pode-se passar quanto tempo se queira a curtir a fauna e a flora do pedaço. No largo há sempre malabaristas, camelôs a moda antiga, diversas rodas e até um solitário pregador evangélico, que não se cansa de apontar o demônio em todas as pessoas que passam perto dele, ameaçando-as com as fogueiras eternas.
Alguém já disse que o Rio é uma grande passarela onde todo mundo quer desfilar, mas é sobretudo uma grande festa, principalmente na Lapa, a tradicional, que embora não tenha jamais morrido, nos últimos tempos ganhou força nova e está a toda e não há dúvida que o Circo Voador e a Fundição Progresso deram grande contribuição para isso.
Tem, porém, um cantinho especial o bar Semente, aquele encostado no pé dos Arcos da Lapa, na Rua Joaquim Silva, onde se estabeleceu a Comuna do Semente, espaço que vários músicos criaram pra si, para curtir e se encontrar, um lugar de música brasileira.
E não é que outro dia, no Semente, pudemos ouvir uma turma maravilhosa que veio das plagas gaúchas cantar músicas brasileiras e canções latino-americanas de Violeta Parra, Atahualpa Yupanqui, Buena Vista Social Club e clássicos como Guantanamera. O conjunto gaúcho se chama Zamba Trio e é show, apresentou repertório musical que combina sucessos eternizados por Elis Regina com canções inesquecíveis interpretadas por Mercedes Soza. É que no meio dos amantes dos chorinhos não há lugar para preconceito. É o Rio de Janeiro.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Grande lider

Certa vez, ouvi de um comerciante em São Paulo, durante um período eleitoral, não me lembro mais quando, a seguinte frase: “gosto do Maluf, porque ele rouba, e deixa roubar”. Até hoje não sei se o cara estava falando sério ou não, mas esta frase ficou na minha cabeça.
Estamos às vésperas de uma eleição presidencial onde Lula desponta como favorito para vencer as eleições. Decididamente, se as pesquisas traduzem a realidade, a população brasileira não está dando a mínima importância aos escândalos recentes. Talvez decepcionada pelas pregações moralistas do tipo da apresentada por Collor em 1989. Acreditamos naquele homem do saco roxo e deu no que deu.
Porém vale a pergunta: Quem é Lula hoje? Talvez seja uma síntese da classe política de nosso país; conseguiu promover a convergência das mais variadas forças políticas e sociais, juntou a Igreja Católica da teologia da libertação, a Igreja Universal do bispo Macedo, a Assembléia de Deus, aos políticos tradicionais, como José Sarney e sua filha Roseane, Fernando Collor de Mello, Renan Calheiros, Paulo Maluf, Jader Barbalho e também uma variada gama de intelectuais orgânicos, diversas organizações não governamentais, povo em geral, amplos setores das classes médias, jovens operários e estudantes, professores universitários e reitores. Fez crer que as desigualdades sociais estão diminuindo. Todo mundo fazendo de conta que acredita na propaganda oficial.
Tá certo que a alternativa apresentada pela oposição é fraca, não só pelo que ela simboliza, mas pelo que de fato ela representa. Afinal no entorno de Geraldo Alckimin, católico à moda tradicional, um self made man caipira de Pindamonhangaba, estão os caciques do PFL, desde Antonio Carlos Magalhães até Jorge Bornhausen, passando por César Maia e outros, ou seja, a turma do PFL com seus currículos bem conhecidos. Assim ficou fácil a reeleição, mesmo com o peso dos apoios de José Serra, Aécio Neves e Jarbas Vasconcelos.
Mas pera lá Lula, não vai haver nenhum compromisso de mudança? Vai ficar tudo como está? O dito, pelo não dito? Basta apenas dizer que as instituições estão funcionando e tudo vai ser apurado e se alguém tiver culpa no cartório que a pague (sem trocadilho)? E vamos que vamos, repartindo o poder com a turma dos apoios recebidos para garantir a governabilidade ameaçada. Ou é nesta composição que reside o pacto à Brasileira (novamente sem trocadilho)? O grande líder do país não pode permitir que o nosso comerciante de São Paulo diga uma frase do tipo: “gosto do Lula, ele não rouba, mas deixa roubar”. Presidente é preciso mais, além de navegar.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Segundo turno: a hora da escolha

O segundo turno de eleições presidenciais, em todo mundo, desperta grandes emoções. Recentemente, próximo de nós, tivemos os casos das eleições na Bolívia e no México. Grandes emoções estão também reservadas para o segundo turno das eleições no Equador. Estas eleições, vistas de fora, parecem que colocam os cidadãos destes países diante de alternativas simétricas, ideologicamente opostas: escolhas difíceis. As mudanças havidas na Bolívia confirmam a percepção de que decisões importantes estão sendo tomadas, em curso um projeto nacionalista, centrado na afirmação dos valores culturais da origem indígena da maioria da população boliviana. O projeto econômico baseia-se no fortalecimento do estado e no plano político promove um alinhamento com a liderança de Hugo Chavez. No México, a eleição se decidiu por diferença tão pequena que levantou dúvidas sobre a seriedade da apuração e praticamente dividiu a sociedade. Neste país, após uma longa hegemonia do PRI, que governou em regime de partido único, por mais de noventa anos, os mexicanos se debatem com os permanentes problemas derivados de uma relação mal resolvida com seu vizinho do norte: os Estados Unidos da América. O ingrediente novo é o movimento zapatista de Chiapas, até o momento, com face de assembléia em reunião permanente, mais para fórum do que para partido político.
Qual será a escolha dos equatorianos? Seguirá o caminho “bolivariano”
E o Brasil? Que coisa heim?
Eleição em segundo turno sem tesão. Porque será?
Além de outras coisas, as diferenças programáticas precisam ser procuradas com lupa e os discursos dos candidatos parecem mais apropriados para disputas de eleições municipais. A toda hora um monte de desmentidos. Um querendo pegar a bandeira do outro ou pregar-lhe uma peça. Francamente, que nível minimalista, que pobreza de discussão política!
E os apoios de cada qual? Afinal quem está com quem? O que está sendo negociado nestas alianças, de maneira visível e invisível? Vários partidos com um pé em cada canoa, outros sem querer se posicionar.
Muitos têm razões de sobra para não estar nem com Lula, nem com Alckmin; não admiram nem o jeito petista de governar, nem o receituário neoliberal que quer substituí-lo.
Porém, independentemente do resultado eleitoral, o cenário político futuro, pós-eleições, devido às dificuldades de conciliação das duas tendências em disputa, sugere um período de crises ao longo do próximo mandato. Como virá a definição de um novo projeto para o país, que o liberte dos ventos tardios de Ronald Reagan e Margaret Thatcher e dos egos de FHC e Lula? Ao menos os dois candidatos reafirmam a importância da retomada do crescimento econômico e do papel estratégico da educação, e estes temas possam constituir um ponto de partida.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Coisas da terceira idade

Como principiante da terceira idade, resolvi praticar hidroginástica. Meu amigo João Renildo, natural de Santiago do Boqueirão, (terra também de ilustre cartunista amigo), gaúcho, que costuma, não sei porque razão, encher o peito e dizer: “sou do Rio Grande, tchê e o carreteiro que faço é de charque". Este meu amigo, que mora do Rio de Janeiro há mais de trinta anos, que não perdeu nada do sotaque e que não dispensa o chimarrão, nem mesmo quando a temperatura ultrapassa os 40ºC, contou-me a seguinte estória: certa vez, um gauchão daqueles da fronteira que já beirava os setenta anos de idade, foi levado a conhecer uma academia de natação, para fazer hidroginástica, como forma de combater as dores provocadas por uma artrite teimosa. Ao olhar para a piscina e ver a turma realizar os exercícios, comentou: Estoy fuera, não vou entrar neste caldo de velhas.
Como bom teimoso, resolvi eu mesmo pagar para ver. E não é que o gauchão observou bem o pedaço! A turma que freqüenta a tal da hidroginástica não cozinha na primeira fervura. Mas, ao entrar na água, para iniciar as aulas, senti uma certa satisfação, de estar contribuindo para baixar a média de idade dos praticantes. A única exceção é a instrutora, garota saradíssima, formada em educação física, que tem a mania de chamar, a todo o momento, a turma para acelerar a prática dos exercícios.
Tenho a impressão que, a exemplo dos adoçantes artificiais, a hidroginástica também faz aumentar o tamanho dos manequins. Não sei como se comporta a média de idade, mas a de diâmetro… A professora para animar a aula, chama, de maneira cativante, as digníssimas senhoras de “meninas”, a que se seguem invariáveis risinhos. Eu sou o único macho da turma e ainda não fui chamado de “garotão”, nem de meu jovem como normalmente ocorre nas feiras-livres do bairro. A propósito, na maioria das feiras do Rio de Janeiro, as jovens mamães são chamadas de “madame” e as senhoras mais velhas de “minha jovem”. Ou seja, a sabedoria mora na feira. Por isso, os psicólogos recomendam, com tanta insistência, às senhoras, irem à feira para comprar verduras e frutas que estas fazem bem à pele e à saúde em geral.

sábado, 7 de outubro de 2006

Cartão Postal vai pagar royalty


O mercado religioso ficou agitado no Rio de Janeiro, após a declaração do cardeal Eusébio Scheid, que anunciou que o Cristo Redentor será declarado novo santuário religioso católico do Brasil no dia 12 de outubro. Uma ação aparentemente ingênua e bem intencionada, não é? Pois é, o setor de turismo comemorou e confia que haverá incremento de pelos 30% nos negócios associados às visitas. As outras igrejas cristãs ainda não se pronunciaram em relação a esta “privatização” (sem leilão) de um monumento que pertence à cidade do Rio de Janeiro. Com a palavra o bispo Macedo, Crivela e outros religiosos que talvez não tenham tido a mesma idéia antes. Só não se sabe ainda se as meninas e senhoras, quando forem ao corcovado contemplar a cidade maravilhosa, continuarão a poder usar mini-saias, bermudas, blusas sem manga e roupas decotadas. Não se sabe também, se os budistas vão declarar a vista chinesa como lugar sagrado e de meditação. Só lembrando que este cardeal é o mesmo que entrou de sola quando o Lula resolveu apoiar o cardeal de São Paulo, Dom Cláudio Humes, para Papa, afinal ele também era elegível, e o jogo já estava aparentemente combinado. É o mesmo também que foi notificado pelo Tribunal Regional Eleitoral por estar fazendo panfletagem dentro das igrejas contra a candidata ao senado Jandira Feghali, acusando-a de ser a favor do aborto. Neste assunto, também as igrejas evangélicas, panfletaram contra a Jandira. Ao que se sabe este tema foi o principal mote de campanha de do candidato Francisco Dornelles que acabou por ser eleito senador. Note-se que o prelado recusou-se a assinar a notificação, não se sabe, se por soberba ou por medo, mas no mínimo, por ter horror a vestir-se como um cidadão brasileiro comum. O Papa Bento XVI, o mesmo das declarações contra a doutrina islâmica, mandou mensagem de parabéns ao Cardeal do Rio de Janeiro. Em tempo, o bispo Crivela citado acima, negociou seu apoio ao candidato Sérgio Cabral ao governo do Estado do Rio, em troca da retirada de seu projeto a favor da união entre gays. Vai fazer o que, esta turma também foi apoiada e está apoiando o nosso presidente à reeleição. Tá?!
Tudo em nome do Bem.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Eleições para presidente


                
O segundo turno das eleições presidenciais pode ser um momento rico de observação do jogo político. Quais as alianças que os partidos e candidatos fazem para tentar vencer o pleito. Aqueles adversários do primeiro turno que eram objeto de críticas, ironias, desprezo e às vezes ofensas pessoais, de uma hora para outra tornam-se preciosos aliados que só merecem efusivos elogios. As alianças que os outros fazem são no mínimo oportunistas para não dizer nojentas. As nossas alianças são realizadas em nome do bem maior da pátria. O maniqueísmo reina como sempre e, em particular, nestes períodos. O segundo turno é também oportunidade para se conhecer os programas e posições dos candidatos, vê-los debater e participar do show midiático em que se convertem as campanhas políticas. A sorte está lançada e o jogo está sendo jogado. Para melhor conhecer as propostas de Lula para o próximo período consultar o seu PROGRAMA DE GOVERNO 2007/2010 que está disponível no site do PT: www.pt.org.br e para acessar o programa do candidato tucano, este está disponível no site: www.geraldo45.can.br. Propõe-se a leitura, aos militantes, para saberem o que estão defendendo, e, aos eleitores em geral, para fazerem suas análises e votarem conhecendo melhor os candidatos e suas alianças partidárias.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

As novas vestes do Rei

Os historiadores daquele Reino distante ainda debatem sobre o que de fato terá ocorrido naquele dia em que o monarca mostrava a seu povo aquela veste diáfana e translúcida que havia encomendado aos magos que visitavam sua corte. Houve muita controvérsia entre os intelectuais da Academia do Reino. Alguns consideraram aquele menino famoso da fábula, um agente golpista infiltrado na multidão. Após a prisão, orientado por seus advogados, ele afirmou que não havia sido ele a pronunciar a frase: “O Rei está nu”. Ele tinha apenas apontado para a enorme barriga do soberano, conhecido apreciador de boa carne e bons vinhos, dizendo “O Rei está numa boa”, e que devido ao barulho o povo ouviu apenas uma parte da frase por ele dita. Sabe-se lá. Não havia documentos históricos muito confiáveis, mas a tradição oral dizia que o rei oscilou entre considerar que, de fato, o povo não teria conseguido perceber a beleza de suas vestes e a possibilidade de ter havido traição por parte de seus alfaiates em conluio com os magos. No Arquivo Real não se consegue até os dias de hoje, obter material historiográfico suficiente para saber o que ocorreu nos anos seguintes ao famoso desfile. Restou o desafio lançado pela fábula. O que terá ocorrido naquele Reino durante e após tão badalado cortejo? Talvez, cada um possa refazer a estória a seu modo. A mim ocorreu que o Rei ficou muito contrariado e, após responsabilizar o alfaiate, os fornecedores de tecidos e o menino malcriado, pelas vaias e risadas ocorridas no desfile, resolveu encomendar novas vestes. As roupas que ele vestira no passado não lhe serviam mais, ficavam muito apertadas e ele se acostumara com outras roupas mais largas oferecidas de presente por alguns barões da Corte. Orientou então, para que se convocasse novamente os sábios e os magos do reino para ouvi-los, sobre como deveria ser o novo figurino para o próximo desfile. Alguns insistiam que ele deveria passar por cima da incompreensão popular e voltar a vestir o manto transparente, pois eles acabariam por se acostumar. Porém um sábio prudentíssimo recomendou-lhe mandar costurar novas vestes com tecidos finos, mas de cores diferentes das usadas no passado. As anteriores já não combinavam mais com o novo perfil do soberano e era preciso restaurar a imagem pública do Monarca. E assim se fez. No dia do novo desfile o Reino engalanou-se como nunca antes havia ocorrido. A cavalaria real estava garbosa como sempre estão as cavalarias reais. O público delirava ao ver se aproximar o Rei e sua Corte da praça central do reino. Quando de repente, novamente, o inesperado aconteceu, o público irrompeu em estrondosa gargalhada. Desta vez foi uma menina que falou para sua mãe: “O Rei está de salto alto”. As fofocas dizem até que era salto Luiz XV. A multidão teve que ser novamente dispersada e mais não se soube. A verdade mesmo é que os arquivos reais não registram os episódios daquela época longínqua, na qual os governantes eram facilmente iludidos por suas cortes e assim cada um pode criar a história que desejar.

domingo, 24 de setembro de 2006

Pode ser a gota d’água


Há uma semana das eleições baixou o espírito de repórter. De máquina fotográfica em punho, fomos observar no calçadão de Ipanema, como estaria rolando a campanha eleitoral. Afinal são eleições gerais conquistadas com muito suor e lágrimas. O domingo amanheceu nublado, com aquele ar meio depressivo; um vento que não havia sido convidado fazia questão de se mostrar de quando em quando. A temperatura para caminhar estava agradável e os esportistas de sempre estavam presentes andando de um lado para outro. Logo que chegamos percebemos que o clima não era de muita animação. Será que nestas eleições proibiram as bandeiras? Onde estão as bandeiras dos partidos políticos, as reais e as simbólicas? Nenhuma bandeira vermelha, nem mesmo com girassóis. O que se via era apenas a propaganda de alguns candidatos a deputado, meio sem graça, com cartazes empunhados por cabos eleitorais remunerados. Ouvimos um retalho de conversa engraçado: um passante perguntou para um cara que distribuía santinhos de uma candidata à deputada federal, onde ela estava naquele instante e o cara respondeu que ela tinha ido à Missa, observe-se que a candidata em questão é uma delegada de polícia que concorre pelo PPS à Câmara dos Deputados. Não havia nenhuma propaganda de candidatos à presidência da República, nem a governador de Estado, a exceção de alguns cartazes de deputados pedindo votos para a juíza Denise Frossard. Zero de campanha presidencial.
De repente, não mais que de repente, começam a aparecer algumas pessoas vestindo camisetas pretas com os dizeres: LULA NÃO (na frente) e ABAIXO A CORRUPÇÃO (na parte de trás). Na medida que caminhávamos íamos vendo mais algumas pessoas vestindo camisetas semelhantes. Ouvimos dizer que estavam distribuindo estas camisetas no final da rua. Ao chegarmos lá, de fato, próximo à estátua do Zózimo, aquele cronista social que marcou época na imprensa do Rio de Janeiro, tinha um grupo de pessoas vendendo as camisas a R$ 5,00 cada uma, falando que era para ajudar a cobrir os custos. Não era visível quem estaria produzindo tais camisetas, mesmo supondo-se quem seria o beneficiário. Voltamos para casa, alguns sem-teto, como já faz parte da paisagem, ali e acolá, ainda dormiam embaixo de cobertores, outros atrás de algum dinheiro para comer alguma coisa…
 

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

CONVERSA DE BAR

Não aconteceu, mas bem poderia ter acontecido. Dez dias antes da eleição dois velhos amigos, bons de papo, se encontraram para tomar uns goles no Bar Lagoa. Eram amigos desde o tempo de juventude e de uma geração que adora falar de política. Naquele bar mesmo, já tinham comemorado a campanha das Diretas Já e lamentado a derrota no Congresso. Tinham ficado putos com o Collor e vibrado com a sua queda; que maravilha aquelas garotas com as caras pintadas de verde-amarelo! Bateu até um sentimento de orgulho de ser brasileiro. Havíamos dado uma lição de civilidade ao mundo e jamais aceitaríamos ser governados por donos de poder corruptos e arrogantes. Fazia algum tempo que eles não se viam. E, como já não eram mais crianças, os comprimentos foram mais ou menos assim: Ô cara, como tu estás bem! Parece cada vez mais garotão. Nem tanto! Ôce também está ótimo, parece mais magro do que da última vez que nós nos vimos. E o Obina heim? Eu não falava que o cara era craque. Pena que ele ta aparecendo só depois da Copa, senão, a gente não perdia não, pelo menos não daquele jeito. Mas eu acho mesmo que faltou o Renato Gaúcho de técnico, o cara sabe: o Vascão vai chegar lá. Lá onde? Deixa pra lá. Como é que estão os filhos? Nem te conto, minha menina acho que não volta mais, já está há três anos na Europa, trabalhando numa loja de roupas, satisfeita da vida. O Tuca voltou dos Estados Unidos onde se doutorou em Física e ainda não conseguiu emprego. Parece que recebeu um convite de uma universidade na China e não sabe ainda se vai para lá e a Marcinha fez um concurso público e trabalha na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Veja só. Mas não tem nada a ver com SNI não. E o teu filho? O Zeca? Ele é professor, trabalha pra caramba, mas continua morando lá em casa e já está no terceiro casamento. A vantagem são as duas netinhas e um netinho maravilhosos que vivem conosco boa parte do tempo. Sabe como é, têm os outros avós também. Mas tá tudo em paz. Qual é a do Papa heim? O outro parecia mais discreto, né? Será que tem a ver com as indenizações que a igreja católica dos Estados Unidos têm tido que pagar por causa dos processos de pedofilia? Não entendi a ligação? Deixa pra lá, é que eu ouvi dizer que quem sustenta o Vaticano é a igreja católica dos EEUU, então seria para agradar o Bush, entendeu agora? Acho que não, penso que a identificação política deste Papa com o Bush segue a mesma linha do antecessor. Mas que o cara é um idiota é. Tá morrendo gente de “erudição”. E a eleição aqui no Brasil? Pelo amor de Deus! Outro dia estava me lembrando de uma peça de teatro, cujo nome era o seguinte: “Quem diria Greta Garbo acabou no Irajá”. Aí me veio a cabeça nomes para outras peças, parafraseando : “Quem diria o Tenentismo acabou na OBAN” e outra “Quem diria os metalúrgicos do ABC e o Congresso da UNE de Ibiúna acabaram em dólares na cueca”. “Quem diria que o sapo barbudo comeria o príncipe dos sociólogos”. Enfim, cara, a coisa se resume ao seguinte: a esperança venceu o medo e a desilusão tá matando os sonhos. Gostaria mesmo que a eleição não fosse eletrônica para que eu pudesse votar em OBINA PARA PRESIDENTE.

Conversa de Bar

Não aconteceu, mas bem poderia ter acontecido. Dez dias antes da eleição dois velhos amigos, bons de papo, se encontraram para tomar uns goles no Bar Lagoa. Eram amigos desde o tempo de juventude e de uma geração que adora falar de política. Naquele bar mesmo, já tinham comemorado a campanha das Diretas Já e lamentado a derrota no Congresso. Tinham ficado putos com o Collor e vibrado com a sua queda; que maravilha aquelas garotas com as caras pintadas de verde-amarelo! Bateu até um sentimento de orgulho de ser brasileiro. Havíamos dado uma lição de civilidade ao mundo e jamais aceitaríamos ser governados por donos de poder corruptos e arrogantes.
Fazia algum tempo que eles não se viam. E, como já não eram mais crianças, os comprimentos foram mais ou menos assim: Ô cara, como tu estás bem! Parece cada vez mais garotão. Nem tanto! Ôce também está ótimo, parece mais magro do que da última vez que nós nos vimos. E o Obina heim? Eu não falava que o cara era craque. Pena que ele ta aparecendo só depois da Copa, senão, a gente não perdia não, pelo menos não daquele jeito. Mas eu acho mesmo que faltou o Renato Gaúcho de técnico, o cara sabe: o Vascão vai chegar lá. Lá onde? Deixa pra lá. Como é que estão os filhos? Nem te conto, minha menina acho que não volta mais, já está há três anos na Europa, trabalhando numa loja de roupas, satisfeita da vida. O Tuca voltou dos Estados Unidos onde se doutorou em Física e ainda não conseguiu emprego. Parece que recebeu um convite de uma universidade na China e não sabe ainda se vai para lá e a Marcinha fez um concurso público e trabalha na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Veja só. Mas não tem nada a ver com SNI não. E o teu filho? O Zeca? Ele é professor, trabalha pra caramba, mas continua morando lá em casa e já está no terceiro casamento. A vantagem são as duas netinhas e um netinho maravilhosos que vivem conosco boa parte do tempo. Sabe como é, têm os outros avós também. Mas tá tudo em paz.
Qual é a do Papa heim? O outro parecia mais discreto, né? Será que tem a ver com as indenizações que a igreja católica dos Estados Unidos têm tido que pagar por causa dos processos de pedofilia? Não entendi a ligação? Deixa pra lá, é que eu ouvi dizer que quem sustenta o Vaticano é a igreja católica dos EEUU, então seria para agradar o Bush, entendeu agora? Acho que não, penso que a identificação política deste Papa com o Bush segue a mesma linha do antecessor. Mas que o cara é um idiota é. Tá morrendo gente de “erudição”.
E a eleição aqui no Brasil? Pelo amor de Deus! Outro dia estava me lembrando de uma peça de teatro, cujo nome era o seguinte: “Quem diria Greta Garbo acabou no Irajá”. Aí me veio a cabeça nomes para outras peças, parafraseando : “Quem diria o Tenentismo acabou na OBAN” e outra “Quem diria os metalúrgicos do ABC e o Congresso da UNE de Ibiúna acabaram em dólares na cueca”. “Quem diria que o sapo barbudo comeria o príncipe dos sociólogos”. Enfim, cara, a coisa se resume ao seguinte: a esperança venceu o medo e a desilusão tá matando os sonhos. Gostaria mesmo que a eleição não fosse eletrônica para que eu pudesse votar em OBINA PARA PRESIDENTE.

terça-feira, 21 de março de 2006

Sobre a retomada do crescimento

A construção de um país desenvolvido é uma obra a ser realizada por várias gerações. Somente uma sociedade determinada e coesa conseguirá realizá-la. É preciso um sentimento conjunto de identificação com objetivos permanentes de incorporação de todos os cidadãos com a causa comum da prosperidade para todos. O Brasil ainda está longe de constituir-se em um país desenvolvido, quer se considere o nível de renda por habitante, quer se considerem os seus indicadores sociais.Há hoje uma falsa controvérsia sobre a oportunidade de se dar continuidade ou não ao BNDES. O BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, é uma instituição do Estado brasileiro, fundada em 1952, portanto com mais de meio século de existência, que vem dando preciosa contribuição ao surgimento e crescimento das empresas brasileiras e a ampliação da infra-estrutura econômica do país. Nas últimas décadas as inúmeras dificuldades vividas pelo país criaram um ambiente onde surgiu uma certa forma de pensar simplória que reduz a questão do desenvolvimento a um conjunto de "reformas" que visam a desregulamentação pela desregulamentação, como uma panacéia que tudo resolverá num futuro sem data. Os defensores destas posições acenam com promessas de que tudo se resolverá com o tempo. Este ano ainda não foi bom, mas o próximo será e se o próximo não for, terá sido porque as reformas foram insuficientes e assim por diante.Embora o país já disponha de um aparelho produtivo complexo, com praticamente todos os setores implantados, há muito a fazer em matéria de preservação da capacidade produtiva, ampliação, modernização e aprimoramento tecnológico. Está na ordem do dia a questão da retomada do crescimento econômico e com este o aparecimento de novas demandas sobre as empresas e sobre a infra-estrutura, para que se garanta suprimento adequado de energia, de insumos e de meios de transporte da produção. Estas necessidades inerentes ao crescimento exigirão recursos financeiros de longo prazo e felizmente o país conta com um dos maiores bancos de fomento do mundo, maior que o BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento e equivalente ao BIRD- Banco Mundial.É graças ao BNDES que temos indústrias como: aeronáutica, de construção naval, siderúrgica, petroquímica, de equipamentos, máquinas e implementos agrícolas, de bens de consumo durável, papel e celulose, etc. Além de projetos na área de infra-estrutura econômica e social, como metrô, estradas e saneamento básico, entre outros. Nós já nos acostumamos a ver , nas cidades e no interior as placas com dizeres: “Este empreendimento conta com o apoio do BNDES”, o que significa projetos financiados pelo Banco com recursos próprios e do FAT-Fundo de Amparo ao Trabalhador.Por que abrir mão de uma instituição tão importante para atender as novas exigências do tempo presente? É pela desconstrução de instituições nacionais como o BNDES que iremos avançar rumo ao desenvolvimento?É imprescindível que as necessidades do país sejam encaradas de frente e suas instituições preservadas e aprimoradas.É preciso que se elaborem políticas nacionais - além das querelas partidárias e de críticas diletantes - que mirem o futuro e sejam dirigidas à construção de um país desenvolvido focado no crescimento econômico, na soberania nacional e na inclusão social.