segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Neoliberalismo e Pinochet


No início dos anos sessenta a democracia chilena era considerada exemplar, por seu respeito à pluralidade política e ao processo eleitoral e até pelo então enaltecido profissionalismo de suas forças armadas. Hoje se sabe que Salvador Allende foi vítima do que se denominou “estratégia econômica do caos”, plano urdido por golpistas chilenos e interesses políticos e econômicos externos, que culminou em uma crise de abastecimento promovida pela paralisação dos caminhoneiros em todo o país. Conseguiram o que queriam: do caos produziram-se as trevas. Tombou um dos últimos governos eleitos democraticamente na América Latina e instalou-se um truculento regime de terror, prisões indiscriminadas, torturas, mortes e exílio para milhares de cidadãos chilenos e estrangeiros que viviam no país.
Nasceu o regime comandado por Augusto Pinochet que se constituiu no principal símbolo das ditaduras latino-americanas no período de 1964 a 1990. Não que as ditaduras no Brasil, Uruguai e Argentina tenham sido menos cruéis e nefastos os seus efeitos. Não que Médici e Videla não pudessem reivindicar igual destaque, afinal seus regimes, em tudo semelhantes, prometiam a criação de potências no Cone Sul.
Com a morte de Pinochet, ironicamente no Dia Internacional dos Direitos Humanos, o tempo vai fechando um período traumatizante de nossas histórias.
As resenhas preparadas, com tempo, pelos jornais e emissoras de televisão, as entrevistas com personalidades brasileiras que viveram no Chile naquela época, tentam esboçar uma avaliação do período pinochetista. Há um certo misto de cinismo e ignorância no comportamento de vários profissionais da mídia e de alguns economistas entrevistados. Querem fazer crer que o sucesso alcançado pelo Chile de hoje deve-se ao “legado” do ditador. Sugerem que os resultados alcançados com as reformas econômicas promovidas no período: a Reforma da Previdência, o Banco Central independente e as privatizações, re-estatizações e re-privatizações é que explicariam tal performance.
Querem dizer que as ditaduras combinadas com neoliberalismo econômico constituem a fórmula para a promoção do Desenvolvimento? Terá sido por falta destas receitas que o Brasil, a Argentina e outros países do continente estão como estão? Será que a Alemanha atual obteve seu êxito por algum “legado de Hitler”?
Lamentavelmente, por um simplismo que ofende o esforço de reconstrução realizada pela sociedade chilena, este olhar que busca descobrir pontos positivos na ditadura de Pinochet e que indiretamente releva seus crimes é que cria o conceito do “prende, tortura e mata, mas faz”. É a lógica que justifica os regimes de força e que a aponta como saída para as dificuldades dos povos.

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