quarta-feira, 25 de julho de 2007

Sexta fase


 NOSTALGIA
O ex-presidente resolveu realizar uma longa viagem de descanso após deixar o cargo máximo do governo, para recuperar-se da longa jornada que realizara.
Logo após, ao retornar ao país, passou a sentir falta do período em que fora governante. Não era mais procurado para dar entrevistas e seus adversários e alguns ex-colaboradores lançaram críticas sobre seu governo, havia muitos processos na Justiça, patrocinados por seus inimigos.
Ele sentia um forte sentimento de incompreensão, considerava-se abandonando e o que é pior achava que estavam destruindo sua obra.
Pensou em criar uma Fundação ou um Instituto de estudos e debates para reunir seus antigos companheiros, retomar o entusiasmo que os havia unido no passado, feito caminhar juntos.
Sentia também saudades dos tempos de poder, da pompa dos banquetes, dos contatos com líderes de outros países e principalmente da corte que o fazia sentir-se superior aos outros homens.
Já não o escutavam como antigamente.
Ele pensou em escrever um livro de memórias, proferir conferências, talvez se candidatar ao Senado, ou a Câmara dos Deputados, ou quem sabe a Prefeitura de sua cidade natal.
Entendia perfeitamente agora, porque todos os que uma vez tenham vivido o poder, não conseguiam viver sem ele.
O governante pensava como um ex-governante.
Vivia de lembranças e ilusões de talvez ocorrer um retorno triunfal nos braços do povo.
Ele dizia para si que o país ainda precisava dele.

sábado, 21 de julho de 2007

SEM PALAVRAS


Estava esperando a demissão do cara da ANAC e ele foi condecorado com a medalha da Ordem Aeronáutica.
Eu ouvi dizer que ele é protegido da Dilma.
Será verdade? Até tu Dilma? Eu não acredito.
Ainda faltam no mínimo três anos e meio de governo e eu estou me lembrando do quinto ano do Conselheiro Sarney quando era presidente.
Porém, tenho esperança que agora vai, o Lula vai mostrar a que veio, vai retomar as teses da democracia representativa, todos reunidos apresentando idéias e sugestões de como construir uma civilização justa nos trópicos, onde todos se respeitem, onde não haja mandonismo e todos possam viver livremente, solidariamente, em harmonia.
Ele vai mandar a merda às conveniências políticas imediatas.
As lágrimas dos velhos militantes que rolaram no dia da sua primeira eleição finalmente serão honradas.
Eles dirão: Não esperamos em vão.
Marco Aurélio, pelo menos fecha a cortina cara. Assim não dá, né?

Quinta fase


NARCISISMO
O governante se sente iluminado, acima do bem e do mal, acreditando que pode dizer e fazer o que bem entender, já não defende um ideal programático, faz apenas o jogo do poder e das conveniências políticas. Seu discurso perde consistência, é pronunciado com a intenção de reforçar os arranjos que o sustentam. Age somente para manter-se no poder e desfrutar das delícias do cargo. Permite-se fazer toda e qualquer aliança que reforcem os seus interesses políticos pessoais. Afasta-se de aliados das primeiras horas e junta-se àqueles que durante as lutas políticas passadas ele havia duramente acusado.
Os que o cercam cobrem-no de elogios e dizem que ele é mais que um governante é um estadista, que o país não pode prescindir dele e que o melhor seria ele se dispor a cumprir mais um mandato. A Constituição não permite, mas ela pode ser reformada.
Afinal, o que interessa é a vontade soberana do povo e as pesquisas de opinião realizadas para tal fim comprovam que esta é a vontade do povo.
E ao ouvir todas estas coisas ele se sente feliz, quase em delírio.
O governante… Ora o governante… Acabou. Ele é governado por sua vaidade.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Quarta fase


O MUNDO DA FANTASIA 
Ele passou a acreditar nas peças publicitárias que ele mesmo havia encomendado e tinham sido elaboradas por sua equipe de propaganda. Passou a solicitar relatórios que informassem os avanços alcançados por seu governo.
Seus contatos passaram a restringir-se apenas a Corte que o cercava. Evitava seus antigos aliados e companheiros e fugia de eventos públicos que pudessem lhe parecer hostis, ou seja, manipulados por seus adversários.
Considerava que a situação atual era muito melhor do que antes de seu governo, que somente os mal intencionados ou desinformados não percebiam as transformações que estavam ocorrendo e passou a chamar de cassandras e carpideiras aqueles que insistiam em criticá-lo, a turma do nhem,nhem, nhem…
Sua assessoria o enchia de relatórios com estatísticas que demonstravam como o país estava melhorando. Passou a fazer declarações e discursos ufanistas enaltecendo as realizações de seu governo e freqüentemente lançava farpas sobre a oposição e seus antecessores.
Considerava-se perseguido pela mídia que insistia em apresentar diariamente notícias e análises sobre possíveis mazelas e ineficiências que estariam ocorrendo em seu mandato.
Não reconheciam seu esforço e dedicação ao país, não respeitavam sua biografia.
O governante perdeu totalmente o contato com a realidade. 

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Terceira fase


ISOLAMENTO
Ele passou a se cercar de bajuladores, procurava contato apenas com assessores que elogiassem seu governo e lhe trouxessem notícias boas, a dita “agenda positiva”, afastou-se daqueles que lhe traziam problemas e críticas.
Passou a solicitar que os relatórios enfatizassem o lado positivo da ação governamental e que mesmo não sendo precisos e verdadeiros pudessem constituir-se em fatores importantes para criação de um ambiente favorável ao seu governo.
Alguns velhos companheiros de partido reclamavam que não conseguiam mais acessá-lo. Ele reclamava que não era mais procurado por eles. O seu gabinete transformou-se num escudo de tecido impermeável, só o acessava quem o gabinete autorizasse. Em viagens pelo país o esquema de segurança argumentava que ele não podia se aproximar muito do povo, afinal podia haver gente infiltrada com o intuito de provocar tumultos ou até mesmo atentados. Irritava-se quando recebia informações sobre especulações a respeito de sua sucessão, as próximas eleições somente ocorreriam dali a dois anos.
Só se sentia bem em pequenos eventos ou quando viajava para o exterior, pois ainda era recebido com respeito, pompa e circunstância e podia de maneira relaxada manifestar-se sobre questões de princípio, temas relevantes para o mundo, que o faziam voltar aos momentos em que pregava mudanças.
Encomendou ao setor de comunicação do governo que fizesse campanhas publicitárias para melhorar o astral do país, para combater o pessimismo e os pessimistas que colocavam em dúvida o nosso futuro; que elaborassem discursos afirmativos, como os que eram feitos na época da memorável campanha eleitoral que havia empolgado o país e o levado ao poder.
O governante passou a considerar que todos aqueles que o criticavam eram seus opositores, adversários ou até inimigos.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Segunda fase


ROTINA
Diariamente, logo cedo, chegavam às mãos do presidente um resumo das notícias que estavam sendo divulgadas sobre seu governo. A assessoria de imprensa buzinava em seus ouvidos algumas preocupações e insinuava que havia segundas intenções nas críticas que lhe eram dirigidas. De quando em quando uma pesquisa de opinião sugeria a existência de problemas em diversas frentes.
Começavam a aparecer futricas, fofocas e intrigas no seio de sua equipe de governo, lutas por espaço, e cobranças pedindo soluções para velhos problemas. Por puro reflexo ele procurava responsabilizar seus predecessores e passava a cobrar mais eficiência de seus colaboradores. Por vezes perdia a paciência e passava a dar broncas a torto e a direito. O que estaria acontecendo com ele? Nunca fora tão agressivo com os companheiros.
Já não solicitava mais que fossem corrigidas as imprecisões que apareciam nos relatórios sobre as ações do governo e irritava-se facilmente com aqueles que lhe traziam informações sobre problemas que estavam ocorrendo.
Era uma carga muita pesada para ele se responsabilizar por tudo o que acontecia e como mecanismo de defesa procurava esquivar-se deles. Vivia sentimentos ambíguos, entre o que imaginara realizar e as frustrações derivadas dos limites do governar. Percebia que as coisas não dependiam somente de sua vontade, de sua vontade política.
Esqueceu-se das grandes reformas que pretendia empreender e passou a se alegrar com pequenos sucessos e a participar de eventos que lhe agradavam, que lhe davam prazer e que o afastavam das grandes questões. Nos encontros de fim de semana com os antigos amigos era terminantemente proibido falar de política. Nas reuniões de rotina no palácio, na maior parte das vezes, estava na pauta coisas menores, pedidos pessoais, interesses corporativos, interesses econômicos de grupos, pedidos de cargos e nomeações para correligionários e parentes.
Passou a não dar crédito a quem apontasse mazelas promovidas por antigos aliados. Constatava um certo desânimo em alguns velhos amigos que ele convidara para o trabalho de governar e percebia que alguns deles estavam deixando o barco.
Isto lhe doía, mas era necessário conviver com cobranças sem fim, conviver com intensa pressão.
O governante passou a evitar quem lhe trouxesse notícias negativas.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Os governantes e o poder

A seguir uma pequena alusão sobre coisas que ocorrem com indivíduos quando assumem cargos públicos importantes. Usou-se como exemplo hipotético alguém exercendo o cargo de presidente da república; poderiam ser utilizadas outras situações típicas, com cargos de ministros, senadores, presidentes e diretores de grandes empresas, em tribunais de justiça ou na grande imprensa, em prefeituras e até em clubes de futebol, condomínios, federações esportivas, igrejas ou cátedras. O tema é o da transformação porque passam os indivíduos quando são transportados a funções representativas de poder. A estória que se segue, dividida em seis fases, seis posts, se baseia em observações da realidade, mas não se inspira em nenhum personagem em particular. Quaisquer semelhanças com governantes do presente e do passado não passam de meras coincidências. Narra uma trajetória hipotética e pode apresentar, não intencionalmente, alguma aderência à realidade.

Primeira fase


EUFORIA
A chegada ao poder foi estonteante. O presidente e seu grupo estavam cheios de entusiasmo com a nova missão. Os momentos vividos foram de alegria que chegavam às vezes as lágrimas. A campanha eleitoral tinha sido árdua, mas finalmente eles teriam a chance de mudar o país. Realizariam os sonhos que acalentaram desde a juventude. Tinha a confiança do povo, mesmo que milhões de eleitores tivessem votado no outro candidato. O dia da posse foi esplêndido, passeara de carro em meio a uma multidão em êxtase, subira a rampa do palácio sob aplausos. A noite houve uma grande festa com intelectuais, artistas, representações diplomáticas, gente muito bonita e alegre. Recebera telefonemas de personalidades mundiais, algumas que conhecia apenas pela televisão. Até o Papa tinha tentado falar com ele.
Os primeiros relatórios que chegaram a suas mãos apontavam situações graves e mostravam que os problemas eram mais complexos do que imaginava. Se soubesse de alguns detalhes talvez não tivesse feito tantas promessas durante a campanha. Não era responsável por eles, mas tomava consciência de que os meios para resolvê-los eram menores do que supunha. Tinha vontade política e iria enfrentá-los.
Ao mesmo tempo, tudo que solicitava era de pronto atendido. As coisas fluíam e lhe dava impressão que era simples governar. Recebia muitos elogios e seus primeiros discursos eram bem recebidos. Providências eram tomadas. É verdade que algumas informações que chegavam às suas mãos exageravam a ação de seu governo e continham muitas imprecisões que beiravam a inverdades; de pronto ele pedia que fossem corrigidas.
Percebia que a burocracia do palácio, sempre muito cortês, procurava envolvê-lo. Os presidentes estrangeiros atendiam-no com cortesia, convidavam-no a visitar seus países e prometiam muita colaboração.
O governante se sentia poderoso.