segunda-feira, 9 de julho de 2007

Segunda fase


ROTINA
Diariamente, logo cedo, chegavam às mãos do presidente um resumo das notícias que estavam sendo divulgadas sobre seu governo. A assessoria de imprensa buzinava em seus ouvidos algumas preocupações e insinuava que havia segundas intenções nas críticas que lhe eram dirigidas. De quando em quando uma pesquisa de opinião sugeria a existência de problemas em diversas frentes.
Começavam a aparecer futricas, fofocas e intrigas no seio de sua equipe de governo, lutas por espaço, e cobranças pedindo soluções para velhos problemas. Por puro reflexo ele procurava responsabilizar seus predecessores e passava a cobrar mais eficiência de seus colaboradores. Por vezes perdia a paciência e passava a dar broncas a torto e a direito. O que estaria acontecendo com ele? Nunca fora tão agressivo com os companheiros.
Já não solicitava mais que fossem corrigidas as imprecisões que apareciam nos relatórios sobre as ações do governo e irritava-se facilmente com aqueles que lhe traziam informações sobre problemas que estavam ocorrendo.
Era uma carga muita pesada para ele se responsabilizar por tudo o que acontecia e como mecanismo de defesa procurava esquivar-se deles. Vivia sentimentos ambíguos, entre o que imaginara realizar e as frustrações derivadas dos limites do governar. Percebia que as coisas não dependiam somente de sua vontade, de sua vontade política.
Esqueceu-se das grandes reformas que pretendia empreender e passou a se alegrar com pequenos sucessos e a participar de eventos que lhe agradavam, que lhe davam prazer e que o afastavam das grandes questões. Nos encontros de fim de semana com os antigos amigos era terminantemente proibido falar de política. Nas reuniões de rotina no palácio, na maior parte das vezes, estava na pauta coisas menores, pedidos pessoais, interesses corporativos, interesses econômicos de grupos, pedidos de cargos e nomeações para correligionários e parentes.
Passou a não dar crédito a quem apontasse mazelas promovidas por antigos aliados. Constatava um certo desânimo em alguns velhos amigos que ele convidara para o trabalho de governar e percebia que alguns deles estavam deixando o barco.
Isto lhe doía, mas era necessário conviver com cobranças sem fim, conviver com intensa pressão.
O governante passou a evitar quem lhe trouxesse notícias negativas.

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