sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Geléia a Vista


Este mês de dezembro, por influência de Papai Noel, aquele velhinho direitista de longos cabelos e barbas brancas, a generosidade tem sido praticada nos quatro cantos do país. O Supremo deixou pra lá a lei da cláusula de barreira. Lei, ora a lei. As prestações de contas de campanha repletas de irregularidades têm sido todas aprovadas com algumas pequenas ressalvas “moralizadoras”. Arquiteta-se uma anistia ampla e irrestrita aos sanguessugas, vampiros e mensaleiros para promover a paz no Congresso Nacional. Por que só o Zé Dirceu e o Roberto Jefferson vão ficar fora dessa? E o espírito de Natal, gente?
Em meio à crise nos aeroportos o ministro da defesa Waldir Pires convoca a sociedade a rezar e com seu ar piedoso reclama que seu salário é baixo.
A coligação política já começa a dar os seus primeiros frutos. Em grande homenagem ao ilustre ex-parlamentar Severino Cavalcante, as forças políticas da coligação governamental aliadas às forças de oposição aprovaram, quase por unanimidade, generoso aumento em seus subsídios. Sarney, Renan, Tião Viana, ACM, Collor, Dornelles, Waldemar, João Paulo e demais parlamentares, coitadinhos se deram bem. Parabéns galera! Até tu Miro?
A semana também tem sido de choros e lágrimas. A senadora Heloísa Helena não consegue se conter e chora ao se despedir do Senado. Resolveu contrariar as elites no poder, dançou.
E Lula chora pela segunda vez.
Por que chora o Grande Líder?
Não chore presidente, não faltará pato na ceia de Natal. Nem caravanas para a segunda posse. O condomínio político fará uma grande festa para homenagear seu síndico na ilha da fantasia. Embora o Brasil não tenha um povo tão obediente quanto o povo chinês e nem o PT lhe obedeça, os partidos da base se encarregarão de que não haja protestos à sua vista e que possa subir a rampa em sossego.
A escolha dos ingredientes para o segundo mandato já foi feita. Em  que prato vai resultar não sabemos, mas tem gente achando que será uma grande geléia, ou marmelada. Afinal estava faltando sobremesa no prato dos brasileiros.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Políticos vão ao cabelereiro


"Eu agora sou amigo do Delfim Netto. Passei 20 e tantos anos criticando o Delfim Netto (ex-ministro da Fazenda da ditadura militar), e agora ele é meu amigo, e eu sou amigo dele. Porque eu estou dizendo isso? Porque eu acho que é a evolução da espécie humana. Quem é mais de direita, vai ficando mais de centro. Quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, menos à esquerda. E as coisas vão confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos, de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito”, disse Lula ao receber o prêmio Brasileiro do Ano da revista Isto É. 
Após a fala do grande líder, houve uma crise de identidade ideológica no país, o que provocou um intenso movimento de políticos para mudar a cor de seus cabelos. Alguns buscando fazer mechas brancas, pois poderiam ser confundidos com esquerdistas perigosos. Outros cogitaram de estabelecer lugares fixos no plenário da Câmara, conforme a cor dos cabelos, para melhor organizar as bancadas. Também as lojas de perucas ficaram abarrotadas pelos chamados políticos fisiológicos, queriam perucas de várias cores, para serem usadas conforme as circunstâncias. Certos intelectuais preferiram usar rena para não perder o charme construído ao longo de suas vidas acadêmicas. 
Os grisalhos ficaram felizes por saberem que os cabelos brancos são hoje um grande indicativo da evolução da espécie humana. E a calvície? Não? Pois se sabe que: “na hora do aperto, é dos carecas que elas gostam mais”. Os carecas são de esquerda, de centro ou de direita? E como posicionar o Marcos Valério? Os carecas estão proibidos de fazer política, ou teremos novamente que ouvir o grande líder? 
E as barbas e bigodes? Têm a ver também com a evolução da espécie? Há alguns tipos bigodes que se destacaram, como os de Hitler e Stalin, mas não sei se tinham ou não fios brancos. Há também barbas famosas, de Jesus Cristo e Che Guevara, uma era negra outra não se sabe direito, apenas supõe-se. 
O que é certo é que a maioria das mulheres é de esquerda, por opção, pois elas combatem os cabelos brancos de todos os modos possíveis.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Neoliberalismo e Pinochet


No início dos anos sessenta a democracia chilena era considerada exemplar, por seu respeito à pluralidade política e ao processo eleitoral e até pelo então enaltecido profissionalismo de suas forças armadas. Hoje se sabe que Salvador Allende foi vítima do que se denominou “estratégia econômica do caos”, plano urdido por golpistas chilenos e interesses políticos e econômicos externos, que culminou em uma crise de abastecimento promovida pela paralisação dos caminhoneiros em todo o país. Conseguiram o que queriam: do caos produziram-se as trevas. Tombou um dos últimos governos eleitos democraticamente na América Latina e instalou-se um truculento regime de terror, prisões indiscriminadas, torturas, mortes e exílio para milhares de cidadãos chilenos e estrangeiros que viviam no país.
Nasceu o regime comandado por Augusto Pinochet que se constituiu no principal símbolo das ditaduras latino-americanas no período de 1964 a 1990. Não que as ditaduras no Brasil, Uruguai e Argentina tenham sido menos cruéis e nefastos os seus efeitos. Não que Médici e Videla não pudessem reivindicar igual destaque, afinal seus regimes, em tudo semelhantes, prometiam a criação de potências no Cone Sul.
Com a morte de Pinochet, ironicamente no Dia Internacional dos Direitos Humanos, o tempo vai fechando um período traumatizante de nossas histórias.
As resenhas preparadas, com tempo, pelos jornais e emissoras de televisão, as entrevistas com personalidades brasileiras que viveram no Chile naquela época, tentam esboçar uma avaliação do período pinochetista. Há um certo misto de cinismo e ignorância no comportamento de vários profissionais da mídia e de alguns economistas entrevistados. Querem fazer crer que o sucesso alcançado pelo Chile de hoje deve-se ao “legado” do ditador. Sugerem que os resultados alcançados com as reformas econômicas promovidas no período: a Reforma da Previdência, o Banco Central independente e as privatizações, re-estatizações e re-privatizações é que explicariam tal performance.
Querem dizer que as ditaduras combinadas com neoliberalismo econômico constituem a fórmula para a promoção do Desenvolvimento? Terá sido por falta destas receitas que o Brasil, a Argentina e outros países do continente estão como estão? Será que a Alemanha atual obteve seu êxito por algum “legado de Hitler”?
Lamentavelmente, por um simplismo que ofende o esforço de reconstrução realizada pela sociedade chilena, este olhar que busca descobrir pontos positivos na ditadura de Pinochet e que indiretamente releva seus crimes é que cria o conceito do “prende, tortura e mata, mas faz”. É a lógica que justifica os regimes de força e que a aponta como saída para as dificuldades dos povos.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Violência e modernidade


Toca o telefone, o cara meio dormindo atende; ouve do outro lado aquela musiquinha de ligação a cobrar. Quem será? Ouve de repente, uma voz abalada e suplicante pedindo ajuda. “Pai me ajuda, pai”. A seguir, entra um pilantra na linha, em tom agressivo anunciando que era do tráfico e tinha seu filho seqüestrado e perguntava ansioso e arrogante: Você quer o seu filho de volta? Tem grana em casa? Ta sozinho? Vai querer seu filho de volta? Acho que vou matar ele logo, um babaca a menos… Após outro com voz mais mansa tentando acalmar para prosseguir…
Adrenalina a mil. Por milagre, sua mulher consegue pelo celular falar com os filhos que também estavam acabando de acordar. A pressão subiu, o batimento cardíaco idem, mas o suplício cessou.
No dia anterior, o cara havia recebido dois e.mails, um em nome do Fininvest e outro em nome da loja virtual Submarino tentando pescar dados e captar informações e senhas. De cada dez mensagens eletrônicas recebidas, nove são spam de todo canto do mundo. Que merda!
Ele se pergunta se as coisas estão piorando ou ele é que tinha tido sorte até aquele momento.
Mas nada como aprender com a sabedoria dos mais jovens.
“Ô velho! Estelionato sempre houve, ou você acha que com as facilidades atuais de telefones celulares e computadores os estelionatários não iriam também usá-los?” Os contos do vigário se reciclam ao longo do tempo, sempre correndo atrás de uma desatenção ou de uma guarda aberta.
Veio a mente do cara um fato ocorrido trinta anos antes, que, em meio a um congestionamento de trânsito, depois de terem lhe arrancado o relógio de pulso pela janela do ônibus, ele tinha ouvido a máxima de um motorista do ônibus ao lado e que a tudo assistira: “pois é meu irrrmão, bobeô, dançô”
E assim caminha a humanidade em direção as chamadas sociedades civilizadas.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

KOFI ANNAN


Após três anos da invasão americana no Iraque, praticamente todos os dias, assistimos na televisão as notícias a respeito dos ataques das forças militares e dos atentados terroristas. Somos informados que desde o início dos bombardeios, em 2003, o orçamento desta ação militar poderá totalizar no próximo ano, 500 bilhões de dólares. A alegação de que estava em curso a produção de armas químicas ficou para as calendas. Os Estados Unidos não deram ouvidos aos países que reprovavam tal intervenção, nem mesmo as manifestações havidas em seu território e em todo o Mundo; mandaram às favas a ONU e prestaram um enorme desserviço à causa da Democracia e da Paz Mundial.
As Nações Unidas bem que tentaram intermediar uma solução para o problema criado. Quem não se lembra do atentado sofrido em Bagdá que levou à morte trágica o embaixador Sérgio Vieira de Mello e fim das esperanças de término pacífico de tal aventura?
Mas Kofi Annan não está se omitindo, neste momento, ao denunciar o fracasso das nações em encontrar caminhos diplomáticos para a solução de questões internacionais.
O Secretário Geral Das Nações Unidas, como o menino da fábula do Rei está nu, em uma de suas últimas entrevistas, antes de deixar o cargo a 31 de dezembro, afirmou à rede de televisão britânica, BBC referindo-se a situação atual do Iraque:
“Quando houve o conflito no Líbano e em outros lugares, demos o nome de guerra civil — e isto é muito pior” 
“Se eu fosse um iraquiano médio, obviamente eu faria a mesma comparação –de que eles tinham um ditador brutal, mas tinham as ruas, podiam sair, seus filhos podiam ir à escola e voltar sem que a mãe ou o pai se preocupasse” 
Os interesses da indústria do petróleo e da indústria bélica americana parecem que falaram mais alto do que os valores da convivência pacífica entre desiguais. Mas, há pelo menos uma notícia a comemorar: a demissão do embaixador dos EEUU junto a ONU, conhecido por sua arrogância e estreiteza de visão.
Adeus Kofi e votos para que seu sucessor se alinhe a causa das Nações Unidas pela paz e pela superação das misérias de nosso tempo.