quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Grande lider

Certa vez, ouvi de um comerciante em São Paulo, durante um período eleitoral, não me lembro mais quando, a seguinte frase: “gosto do Maluf, porque ele rouba, e deixa roubar”. Até hoje não sei se o cara estava falando sério ou não, mas esta frase ficou na minha cabeça.
Estamos às vésperas de uma eleição presidencial onde Lula desponta como favorito para vencer as eleições. Decididamente, se as pesquisas traduzem a realidade, a população brasileira não está dando a mínima importância aos escândalos recentes. Talvez decepcionada pelas pregações moralistas do tipo da apresentada por Collor em 1989. Acreditamos naquele homem do saco roxo e deu no que deu.
Porém vale a pergunta: Quem é Lula hoje? Talvez seja uma síntese da classe política de nosso país; conseguiu promover a convergência das mais variadas forças políticas e sociais, juntou a Igreja Católica da teologia da libertação, a Igreja Universal do bispo Macedo, a Assembléia de Deus, aos políticos tradicionais, como José Sarney e sua filha Roseane, Fernando Collor de Mello, Renan Calheiros, Paulo Maluf, Jader Barbalho e também uma variada gama de intelectuais orgânicos, diversas organizações não governamentais, povo em geral, amplos setores das classes médias, jovens operários e estudantes, professores universitários e reitores. Fez crer que as desigualdades sociais estão diminuindo. Todo mundo fazendo de conta que acredita na propaganda oficial.
Tá certo que a alternativa apresentada pela oposição é fraca, não só pelo que ela simboliza, mas pelo que de fato ela representa. Afinal no entorno de Geraldo Alckimin, católico à moda tradicional, um self made man caipira de Pindamonhangaba, estão os caciques do PFL, desde Antonio Carlos Magalhães até Jorge Bornhausen, passando por César Maia e outros, ou seja, a turma do PFL com seus currículos bem conhecidos. Assim ficou fácil a reeleição, mesmo com o peso dos apoios de José Serra, Aécio Neves e Jarbas Vasconcelos.
Mas pera lá Lula, não vai haver nenhum compromisso de mudança? Vai ficar tudo como está? O dito, pelo não dito? Basta apenas dizer que as instituições estão funcionando e tudo vai ser apurado e se alguém tiver culpa no cartório que a pague (sem trocadilho)? E vamos que vamos, repartindo o poder com a turma dos apoios recebidos para garantir a governabilidade ameaçada. Ou é nesta composição que reside o pacto à Brasileira (novamente sem trocadilho)? O grande líder do país não pode permitir que o nosso comerciante de São Paulo diga uma frase do tipo: “gosto do Lula, ele não rouba, mas deixa roubar”. Presidente é preciso mais, além de navegar.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Segundo turno: a hora da escolha

O segundo turno de eleições presidenciais, em todo mundo, desperta grandes emoções. Recentemente, próximo de nós, tivemos os casos das eleições na Bolívia e no México. Grandes emoções estão também reservadas para o segundo turno das eleições no Equador. Estas eleições, vistas de fora, parecem que colocam os cidadãos destes países diante de alternativas simétricas, ideologicamente opostas: escolhas difíceis. As mudanças havidas na Bolívia confirmam a percepção de que decisões importantes estão sendo tomadas, em curso um projeto nacionalista, centrado na afirmação dos valores culturais da origem indígena da maioria da população boliviana. O projeto econômico baseia-se no fortalecimento do estado e no plano político promove um alinhamento com a liderança de Hugo Chavez. No México, a eleição se decidiu por diferença tão pequena que levantou dúvidas sobre a seriedade da apuração e praticamente dividiu a sociedade. Neste país, após uma longa hegemonia do PRI, que governou em regime de partido único, por mais de noventa anos, os mexicanos se debatem com os permanentes problemas derivados de uma relação mal resolvida com seu vizinho do norte: os Estados Unidos da América. O ingrediente novo é o movimento zapatista de Chiapas, até o momento, com face de assembléia em reunião permanente, mais para fórum do que para partido político.
Qual será a escolha dos equatorianos? Seguirá o caminho “bolivariano”
E o Brasil? Que coisa heim?
Eleição em segundo turno sem tesão. Porque será?
Além de outras coisas, as diferenças programáticas precisam ser procuradas com lupa e os discursos dos candidatos parecem mais apropriados para disputas de eleições municipais. A toda hora um monte de desmentidos. Um querendo pegar a bandeira do outro ou pregar-lhe uma peça. Francamente, que nível minimalista, que pobreza de discussão política!
E os apoios de cada qual? Afinal quem está com quem? O que está sendo negociado nestas alianças, de maneira visível e invisível? Vários partidos com um pé em cada canoa, outros sem querer se posicionar.
Muitos têm razões de sobra para não estar nem com Lula, nem com Alckmin; não admiram nem o jeito petista de governar, nem o receituário neoliberal que quer substituí-lo.
Porém, independentemente do resultado eleitoral, o cenário político futuro, pós-eleições, devido às dificuldades de conciliação das duas tendências em disputa, sugere um período de crises ao longo do próximo mandato. Como virá a definição de um novo projeto para o país, que o liberte dos ventos tardios de Ronald Reagan e Margaret Thatcher e dos egos de FHC e Lula? Ao menos os dois candidatos reafirmam a importância da retomada do crescimento econômico e do papel estratégico da educação, e estes temas possam constituir um ponto de partida.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Coisas da terceira idade

Como principiante da terceira idade, resolvi praticar hidroginástica. Meu amigo João Renildo, natural de Santiago do Boqueirão, (terra também de ilustre cartunista amigo), gaúcho, que costuma, não sei porque razão, encher o peito e dizer: “sou do Rio Grande, tchê e o carreteiro que faço é de charque". Este meu amigo, que mora do Rio de Janeiro há mais de trinta anos, que não perdeu nada do sotaque e que não dispensa o chimarrão, nem mesmo quando a temperatura ultrapassa os 40ºC, contou-me a seguinte estória: certa vez, um gauchão daqueles da fronteira que já beirava os setenta anos de idade, foi levado a conhecer uma academia de natação, para fazer hidroginástica, como forma de combater as dores provocadas por uma artrite teimosa. Ao olhar para a piscina e ver a turma realizar os exercícios, comentou: Estoy fuera, não vou entrar neste caldo de velhas.
Como bom teimoso, resolvi eu mesmo pagar para ver. E não é que o gauchão observou bem o pedaço! A turma que freqüenta a tal da hidroginástica não cozinha na primeira fervura. Mas, ao entrar na água, para iniciar as aulas, senti uma certa satisfação, de estar contribuindo para baixar a média de idade dos praticantes. A única exceção é a instrutora, garota saradíssima, formada em educação física, que tem a mania de chamar, a todo o momento, a turma para acelerar a prática dos exercícios.
Tenho a impressão que, a exemplo dos adoçantes artificiais, a hidroginástica também faz aumentar o tamanho dos manequins. Não sei como se comporta a média de idade, mas a de diâmetro… A professora para animar a aula, chama, de maneira cativante, as digníssimas senhoras de “meninas”, a que se seguem invariáveis risinhos. Eu sou o único macho da turma e ainda não fui chamado de “garotão”, nem de meu jovem como normalmente ocorre nas feiras-livres do bairro. A propósito, na maioria das feiras do Rio de Janeiro, as jovens mamães são chamadas de “madame” e as senhoras mais velhas de “minha jovem”. Ou seja, a sabedoria mora na feira. Por isso, os psicólogos recomendam, com tanta insistência, às senhoras, irem à feira para comprar verduras e frutas que estas fazem bem à pele e à saúde em geral.

sábado, 7 de outubro de 2006

Cartão Postal vai pagar royalty


O mercado religioso ficou agitado no Rio de Janeiro, após a declaração do cardeal Eusébio Scheid, que anunciou que o Cristo Redentor será declarado novo santuário religioso católico do Brasil no dia 12 de outubro. Uma ação aparentemente ingênua e bem intencionada, não é? Pois é, o setor de turismo comemorou e confia que haverá incremento de pelos 30% nos negócios associados às visitas. As outras igrejas cristãs ainda não se pronunciaram em relação a esta “privatização” (sem leilão) de um monumento que pertence à cidade do Rio de Janeiro. Com a palavra o bispo Macedo, Crivela e outros religiosos que talvez não tenham tido a mesma idéia antes. Só não se sabe ainda se as meninas e senhoras, quando forem ao corcovado contemplar a cidade maravilhosa, continuarão a poder usar mini-saias, bermudas, blusas sem manga e roupas decotadas. Não se sabe também, se os budistas vão declarar a vista chinesa como lugar sagrado e de meditação. Só lembrando que este cardeal é o mesmo que entrou de sola quando o Lula resolveu apoiar o cardeal de São Paulo, Dom Cláudio Humes, para Papa, afinal ele também era elegível, e o jogo já estava aparentemente combinado. É o mesmo também que foi notificado pelo Tribunal Regional Eleitoral por estar fazendo panfletagem dentro das igrejas contra a candidata ao senado Jandira Feghali, acusando-a de ser a favor do aborto. Neste assunto, também as igrejas evangélicas, panfletaram contra a Jandira. Ao que se sabe este tema foi o principal mote de campanha de do candidato Francisco Dornelles que acabou por ser eleito senador. Note-se que o prelado recusou-se a assinar a notificação, não se sabe, se por soberba ou por medo, mas no mínimo, por ter horror a vestir-se como um cidadão brasileiro comum. O Papa Bento XVI, o mesmo das declarações contra a doutrina islâmica, mandou mensagem de parabéns ao Cardeal do Rio de Janeiro. Em tempo, o bispo Crivela citado acima, negociou seu apoio ao candidato Sérgio Cabral ao governo do Estado do Rio, em troca da retirada de seu projeto a favor da união entre gays. Vai fazer o que, esta turma também foi apoiada e está apoiando o nosso presidente à reeleição. Tá?!
Tudo em nome do Bem.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Eleições para presidente


                
O segundo turno das eleições presidenciais pode ser um momento rico de observação do jogo político. Quais as alianças que os partidos e candidatos fazem para tentar vencer o pleito. Aqueles adversários do primeiro turno que eram objeto de críticas, ironias, desprezo e às vezes ofensas pessoais, de uma hora para outra tornam-se preciosos aliados que só merecem efusivos elogios. As alianças que os outros fazem são no mínimo oportunistas para não dizer nojentas. As nossas alianças são realizadas em nome do bem maior da pátria. O maniqueísmo reina como sempre e, em particular, nestes períodos. O segundo turno é também oportunidade para se conhecer os programas e posições dos candidatos, vê-los debater e participar do show midiático em que se convertem as campanhas políticas. A sorte está lançada e o jogo está sendo jogado. Para melhor conhecer as propostas de Lula para o próximo período consultar o seu PROGRAMA DE GOVERNO 2007/2010 que está disponível no site do PT: www.pt.org.br e para acessar o programa do candidato tucano, este está disponível no site: www.geraldo45.can.br. Propõe-se a leitura, aos militantes, para saberem o que estão defendendo, e, aos eleitores em geral, para fazerem suas análises e votarem conhecendo melhor os candidatos e suas alianças partidárias.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

As novas vestes do Rei

Os historiadores daquele Reino distante ainda debatem sobre o que de fato terá ocorrido naquele dia em que o monarca mostrava a seu povo aquela veste diáfana e translúcida que havia encomendado aos magos que visitavam sua corte. Houve muita controvérsia entre os intelectuais da Academia do Reino. Alguns consideraram aquele menino famoso da fábula, um agente golpista infiltrado na multidão. Após a prisão, orientado por seus advogados, ele afirmou que não havia sido ele a pronunciar a frase: “O Rei está nu”. Ele tinha apenas apontado para a enorme barriga do soberano, conhecido apreciador de boa carne e bons vinhos, dizendo “O Rei está numa boa”, e que devido ao barulho o povo ouviu apenas uma parte da frase por ele dita. Sabe-se lá. Não havia documentos históricos muito confiáveis, mas a tradição oral dizia que o rei oscilou entre considerar que, de fato, o povo não teria conseguido perceber a beleza de suas vestes e a possibilidade de ter havido traição por parte de seus alfaiates em conluio com os magos. No Arquivo Real não se consegue até os dias de hoje, obter material historiográfico suficiente para saber o que ocorreu nos anos seguintes ao famoso desfile. Restou o desafio lançado pela fábula. O que terá ocorrido naquele Reino durante e após tão badalado cortejo? Talvez, cada um possa refazer a estória a seu modo. A mim ocorreu que o Rei ficou muito contrariado e, após responsabilizar o alfaiate, os fornecedores de tecidos e o menino malcriado, pelas vaias e risadas ocorridas no desfile, resolveu encomendar novas vestes. As roupas que ele vestira no passado não lhe serviam mais, ficavam muito apertadas e ele se acostumara com outras roupas mais largas oferecidas de presente por alguns barões da Corte. Orientou então, para que se convocasse novamente os sábios e os magos do reino para ouvi-los, sobre como deveria ser o novo figurino para o próximo desfile. Alguns insistiam que ele deveria passar por cima da incompreensão popular e voltar a vestir o manto transparente, pois eles acabariam por se acostumar. Porém um sábio prudentíssimo recomendou-lhe mandar costurar novas vestes com tecidos finos, mas de cores diferentes das usadas no passado. As anteriores já não combinavam mais com o novo perfil do soberano e era preciso restaurar a imagem pública do Monarca. E assim se fez. No dia do novo desfile o Reino engalanou-se como nunca antes havia ocorrido. A cavalaria real estava garbosa como sempre estão as cavalarias reais. O público delirava ao ver se aproximar o Rei e sua Corte da praça central do reino. Quando de repente, novamente, o inesperado aconteceu, o público irrompeu em estrondosa gargalhada. Desta vez foi uma menina que falou para sua mãe: “O Rei está de salto alto”. As fofocas dizem até que era salto Luiz XV. A multidão teve que ser novamente dispersada e mais não se soube. A verdade mesmo é que os arquivos reais não registram os episódios daquela época longínqua, na qual os governantes eram facilmente iludidos por suas cortes e assim cada um pode criar a história que desejar.