sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Entre Juras e Juros


Encerrado o ano de 2006 em ambiente de “apagão” aéreo, 2007 começou trazendo esperanças, com a promessa de anúncio de medidas para destravar o país de empecilhos à retomada do crescimento econômico. Houve também a suspensão de licitações para estradas, férias governamentais, indecisão na montagem da equipe ministerial do segundo mandato de Lula e disputas políticas em torno da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado.
O país parece condenado a viver sob a égide da mentalidade burocrática e da pequena política. O presidente, em cumprimento aos seus compromissos de campanha, convoca partidos, governadores e ministros interinos, para grande solenidade de lançamento de um pacote, muito criativamente denominado de PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Para decepção geral, trata-se de um conjunto de “coisas” recolhidas pelos diversos ministérios embaladas para presente. A burocracia jura que agora vai tocar o que não estava tocando.
O Brasil do Banco Central continua a substituir o Banco Central do Brasil e na primeira reunião do ano, resolve desacelerar o ritmo de redução da taxa SELIC, apesar do humilde pedido de redução nos juros, feito pelo Ministro da Fazenda na forma de uma brincadeira, no ambiente de entusiasmo na festa de lançamento do pacote. Cenas explícitas de sabotagem da vontade política de Lula, parecendo até provocação. Qualquer país do mundo, não produtor de jabuticabas, quando decide incentivar o aumento da produção inicia por reduzir suas taxas de juros, como, aliás, recomenda a teoria econômica.
Francamente, assim fica difícil voltar a crescer.
Jura que vai fazer o Brasil crescer, então pensa grande, não deixa que sua alma se apequene e não tema substituir peças de travamento. Entre juras e juros, fica com as primeiras, para que depois não chore não ter ousado e então passe para a história como aquele que poderia ter sido, mas não foi. Afinal nem todos têm uma segunda chance.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Sopão


Há um grupo de especialistas em sabores diversos que poderia ser denominado de os insaciáveis que sonha com um prato de grande valor, mas que leva um nome simples: sopão. Tal especialidade não se encontra disponível na maior parte dos restaurantes e tampouco em todas as temporadas gastronômicas. Os ingredientes são diversos conforme o chef da época, já houve sopão de saco roxo, de tucano e agora se prepara um baseado em polvo e lula. Em todos, o importante é que não faltem boas doses de cara de pau ralada e chá de moita e que seja cozido no fogo brando da improbidade.
O clube detentor da receita guarda a sete chaves os seus segredos para que esta não caia em domínio público, afinal são todos conhecedores da fábula infantil da galinha dos ovos de ouro, embora haja uma minoria radical entre eles que imaginam um dia fazer um sopão com esta famosa galinha. Há alguns que gostam de trabalhar de graça, por vários anos, somente para deliciar-se com tal iguaria.
O importante neste prato é que ele seja servido frio e degustado com vinho mazela, bem gelado. O vinho é indispensável, pois é ele que provoca uma certa euforia hilariante que leva os comensais a saboreá-lo entre gargalhadas, que só os verdadeiramente espertinhos conhecem.
Chama atenção o fato que esta especialidade que é, para alguns poucos, uma delícia, causa fortes enjôos e náuseas a muitos outros. Alguns jornalistas gostam até de fazer fofoca a respeito, o que pode até servir de aviso ao grupo. Cuidado gente, não é com tanta sede que se vai ao pote.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Pelas Bandas de Ipanema

Ela caminhava pelas ruas arborizadas de Ipanema, algumas delas repletas de orquídeas recebidas de presentes, formais ou carinhosas. Algumas orquídeas estão hoje disponíveis para consumo como caixas de chocolate, mas têm um quê especial, uma elegância que só a natureza das plantas entranhadas de vida conseguem expressar.
Ela ia praticar esporte e estava suavemente de bem com a vida, andava com passos calmos e firmes, curtia o ar da manhã. Ela se deu conta que as ruas estavam limpas e o movimento começava a se agitar.
De repente o inusitado aconteceu: ela atravessava a faixa de segurança e um carro, repleto de crianças, que se dirigia à praia diminuiu a marcha e então uma destas embalagens de suco foi atirada para fora. Um senhor que passava, instintivamente se baixou pegou o lixo e lançou de volta para dentro do carro. Nada falou e seguiu seu caminho. Deu um branco total e gerou um olhar atônito dentro do carro, as pessoas ficaram mudas e perplexas sem saber como reagir. As outras que estavam por perto pareciam aprovar com sinais de apoio.
Ela sorriu e sua mente começou viajar… Se a moda pega?
Teve que se desviar de carros estacionados encima das calçadas e de alguns apontadores de jogo do bicho sentados em pequenos bancos, e também de comerciantes informais que estendiam suas mercadorias. Algumas lojas tinham feito uns puxadinhos e o espaço para caminhar ficava uma espécie de corrida com obstáculos. Apanhou alguns papéis de publicidade de cartomantes, compra de ouro, venda de imóveis e oferta de oportunidades.
Ouvia várias línguas serem faladas. Ipanema é um bairro cosmopolita, tem um ar de mundo e como é bom caminhar por suas ruas, tão bonitas e charmosas, com sua atmosfera alegre e cheia de vida. Ela caminhava e se sentia bem. A combinação, agitação da Metrópole com a descontração da praia era o que ela mais apreciava no Rio.
Viu também uma jovem senhora passeando com uma cachorrinha que devia ter acabado de sair de um instituto de beleza, era um bichinho felpudo de pelos brancos e uma fitinha colorida, certamente era uma cachorrinha de raça, uma belezinha que combinava perfeitamente com a elegância da dona. Foi curioso vê-la apanhar com luvas higiênicas o cocô da “filhinha”. A nossa caminhante pensou que talvez ela não fizesse isso em sua própria casa.
Logo adiante, como faz todos os dias, encostada na parede de um edifício estava uma jovem e bonita mulher sentada com seus dois filhinhos vendendo balas, com a frase típica: “compra uns doces pra me ajudar”.
Ela sorriu mais uma vez e seguiu seu caminho.

sábado, 6 de janeiro de 2007

Deixa o homem descansar


Logo um carioca da gema, o governador Sérgio Cabral, está dando um mau exemplo para o país, contrariando a tradição que o ano só começa depois do carnaval. E não é que antes mesmo de tomar posse o cara já estava trabalhando: visitando hospitais, promovendo acordos na área de segurança, mandando os chefes do crime para uma prisão federal no Paraná, empossando o secretariado, agitando a dragagem do mangue da ilha do Fundão… Tá pegando bem, mas a pergunta que fica no ar, é quanto tempo vai durar tal empenho? Quem não está acostumado estranha.
Brasília segue a tradição, o Grande Líder prorrogou o tempo de permanência dos antigos ministros para que eles pudessem tirar férias, pois ao que parece ainda não houve tempo para a escolha do ministério do segundo mandato. Sabe como é, né! Vai ter eleição para a presidência das casas do Congresso Nacional, e a gente tem que esperar o resultado para depois escolher os nomes. O que tem a ver o céu com as calças? Nada. Por sinal esta disputa na Câmara está com cara de vídeo tape de filme brega.
Mas deixa pra lá, o que importa mesmo são as férias do líder em um quartel no Guarujá. Prisão voluntária com direito a banho de Sol na praia, claro se o astro rei der as suas caras. Somente por dez dias o país vai ficar sem presidente. Há um risco nisso: é o de que ninguém note, não sinta nenhuma falta. Brasília será governada em regime de revezamento entre ministros interinos de plantão. Nesta época do ano já é difícil o batente por lá, imagina em regime de muda sem o chefão presente. Não há razão alguma para cobranças pois a época é para ensaio das nossas escolas de samba.
Fica uma sugestão ao Grande Líder, após o merecido descanso: que tal quando iniciar o segundo mandato fazer uma visita ao INSS e se informar dos tempos necessários para atendimento dos trabalhadores-contribuintes da Previdência Social.