sábado, 1 de setembro de 2007

Praticamente uma Igreja


O cara encontrava-se completamente perplexo. Não entendia nada do que estava acontecendo.
Ele estava acabrunhado, sentado em uma cadeira, naquele auditório enorme, tão grande que se parecia com aqueles lugares aonde se realizam as campanhas eleitorais americanas. Sabe, aqueles auditórios imensos que a gente vê na televisão quando estão rolando as prévias das campanhas presidenciais à Casa Branca. Uma daquelas grandes produções dos gênios do marketing político: todo o espaço cheio de bandeiras e balões coloridos.
O cara estava ali, junto com os amigos de tantos anos, com os quais tinha formado uma grande irmandade. Grande parte, ele havia conhecido na época de estudante. Quanto entusiasmo, quanto afeto, quanto carinho ainda havia entre todos eles. Eram muito mais que um grupo ou que um partido, eram praticamente uma igreja. Sabe porque? Acreditavam que iriam juntos construir muitas coisas; lutar por um mundo mais justo. Não haveria mais lugar para a corrupção, nem para os luxos burgueses. Não passava pelas mentes obter privilégios para os companheiros. Só pensavam na dedicação irrestrita, total, de oferecer a vida à causa comum.
O que teria acontecido com os líderes? Eles teriam perdido a cabeça ou seriam vítimas dos inimigos do bem? Deveria haver alguma explicação plausível para tantas denúncias e acusações.
O auditório estava lotado. Os bispos haviam ficado presos por dez meses em Miami. Certamente, eles haviam confessado culpa apenas para não ficar muito tempo longe de sua igreja no Brasil. Sabe como é, nos Estados Unidos eles parecem favorecer quem admite ter cometido crimes. A gente no Brasil não tem essas facilidades oriundas das confissões, então todos os acusados afirmam que nada fizeram, que são vítimas de injustiças e que haverão de provar suas inocências.
Havia no ar uma grande expectativa e o cara imaginava que enfim obteria as explicações do que tinha acontecido com eles. Ele não agüentava mais as gozações dos amigos de outras religiões que o chamavam de otário só porque ele pagava o dízimo pontualmente. Os católicos não podiam falar mais nada porque a questão da pedofilia tinha botado eles de cabeça baixa.
Mas e os outros? Estavam morrendo de rir.
Porém quando os “cardeais” entraram na sala, atravessando o corredor central, percorrendo o enorme tapete vermelho que tinha sido estendido desde a porta até a mesa que dirigia os trabalhos, todos se levantaram e aplaudiram em pé.
Não havia necessidade de explicações. A Igreja estava salva.